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Milagre – Parte 16 “Epílogo”

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Quando concordei com a eutanásia do Milagre, eu já estava esgotada. Esgotada de tanto sofrer, esgotada de tentar e sempre surgir novas complicações, esgotada emocionalmente. O que me doía mais, era ver que todo meu cuidado tinha sido em vão. Não me importava com o fato de que passaria um ano pagando seu tratamento, mesmo que ele não estivesse vivo para eu dizer “valeu a pena”, pois mesmo morto não me arrependo do que fiz, o que me doeu mais, foi ter que desistir, por ser incapaz de continuar cuidando dele. Ele precisaria de cuidados 24 horas e eu não podia contar com mais ninguém. Ninguém que dispusesse desse tempo, ou de boa vontade, não tinha como eu chegar em qualquer pessoa que fosse e dizer: “Olha, salvei um cachorro na rua que foi atropelado, pode cuidar pra mim, enquanto eu trabalho?!” Éramos só nós dois. E além de todos esses motivos, sua recuperação era incerta. Ele não estava tendo qualidade de vida, o pobrezinho vivia deitado todo o tempo, sem mal poder se mexer com uma pata a menos e duas desabilitadas.

Fui vencida pela dor. Pois vê-lo naquela situação me cortava o coração. Se eu soubesse daquela clínica desde o princípio, talvez pudesse ter sido diferente, afinal eles teriam feito todos exames e cirurgias a tempo, onde poderia ter passado menos sufoco nessa trajetória.

Fiquei com ele até fazerem todos os procedimentos, chorei e sofri demais, mas me convenci que era o melhor a fazer. Quando estava indo embora, as senhoras que me consolaram antes, me perguntaram dele e o que tinha acontecido, contei a elas entre lágrimas, e as questionei: “De que valeu isso tudo se ele não conseguiu ficar bom?” e uma delas me respondeu: “De que valeu? Você viu os olhinhos dele olhando pra você? Ele sabia que você fez o que podia por ele”.

Será mesmo? Será que ele sabia que mesmo o conhecendo há tão pouco tempo, eu o amava e queria demais que ele ficasse bom?? Será que ele sabia que eu sofria tanto quanto ele, vendo-o naquela situação?? Será que ele sabia que estava sendo bastante difícil para mim, ter que abrir mão de mantê-lo vivo, porquê eu não tinha os recursos necessários para salvá-lo?? Sei que ele era só um cachorro, mas mesmo assim quero acreditar que ele tinha esse entendimento, pois mesmo sabendo que sua história não teve um final feliz, procuro acreditar que sua passagem na minha vida não foi em vão.

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TRILHA SONORA

 Sum 41 – With You

Measure – Begin Again

Maroon 5 – My Heart Is Open

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Milagre – Parte 12 “Ainda No Hospital”

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Na segunda etapa passamos com outro veterinário que me pareceu meio fechado. Ele pegou um acessório que parecia alicate e começou a apertar na cauda e “dedo” da pata traseira do Milagre, ele apertava tão fortemente que eu já estava sentindo a dor pelo cachorro. Mas após 2 segundos apertando que o Milagre demonstrou sentir alguma dor, apesar da demora para ele se manifestar achei que aquilo seria bom, e disse a ele “Isso é bom né? Ele ainda está sentindo?!” ele me respondeu sem esperanças que na verdade não, porque da forma como estava “quase arrancando” o dedo, já devia estar querendo morder ele! 😦

Depois disso voltei para a sala de espera. A próxima etapa seria um novo Raio X. Eu já tinha levado o da clínica particular, mas eles queriam um mais atual (como se estivesse diferente). Demorou muito mais tempo para ser chamada. Me envolvi em algumas conversas superficiais com as outras senhoras, mas nada que me fizesse pedir o contato delas quando iam embora.

Após sair o resultado da radiografia, me disseram que na atual situação, não tinham como fazer outra cirurgia, pois já havia perdido os sentidos das patas. (Só aí entendi porque a veterinária da clinica disse que tinha que ser o quanto antes). Disseram que talvez depois que ele se recuperasse da cirurgia já feita, pudesse voltar a sentir as patas traseiras. Talvez. Tudo era talvez.

Voltei para a sala de espera pois ele passaria por uma quinta etapa, onde iriam refazer seu ponto. Ele tinha arrancado uma pequena parte com a boca, pois eu não coloquei o colar nele. Sabia que tinha que colocar, mas me sentia mal, pois ele já não conseguia se mexer, ficar com aquilo na cabeça seria muito depressivo. Sendo assim aguardei mais um tempão para que fosse chamado na sala de cirurgia. Essa foto em destaque no início de todos os posts foi desse dia, depois que terminaram, que tirei pouco antes de irmos embora, umas cinco da tarde.

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Milagre – Parte 11 “Hospital Público Veterinário Tucuruvi”

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Na véspera da minha próxima folga, peguei a primeira lotação por volta das 04:30 e fui até o Tucuruvi pegar a tal senha. Realmente lá era bem mais fácil e consegui tranquilamente, tinham algumas pessoas na fila, mas não mais de 80. No dia seguinte paguei um conhecido que trabalhava com táxi para que me levasse até lá, dessa vez minha mãe não pôde me acompanhar e só fomos eu e o Milagre. Enquanto eu abria o portão, o coloquei no chão (o levei dentro de uma caixa) e ele e meu cachorro trocaram rosnados! Ou seja, estava impossibilitado de andar mas ainda tinha personalidade! Rs.

Quanto ao fato de eu não morar em São Paulo, pedi ao meu namorado que me encontrasse lá com seu comprovante de residência, e cadastramos como se o Milagre fosse dele. E uma coisa boa era que o titular não precisaria ficar até o final e nem participar de todas as consultas. Sendo assim, depois ele foi trabalhar e eu fiquei.

Cheguei lá às sete da manhã e como todo atendimento em órgãos públicos são demorados, esse não foi diferente. A parte da triagem que você entrava e explicava o motivo de estar ali era rápido, mas depois que você voltava para a sala de espera para aguardar as próximas etapas, demoravam demais! Até mesmo mais de uma hora.

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Eu não podia reclamar porque tinha tirado o dia para aquilo e afinal era de graça, sem contar a qualidade dos profissionais. Por coincidência, a mesma veterinária que me atendeu no Tatuapé estava lá no momento da triagem, e quando nos viu fez questão de nos atender! Dizia aos outros: “olha o cachorro do qual eu falei” nos sentimos queridos!

Sabe quando você era pequeno(a) e sua mãe te levava ao médico? Lembra quando demorava e ela ficava conversando com outras mães, cada uma contando a doença do seu filho? Foi exatamente igual! Umas perguntavam para as outras o que o seu bichinho tinha, e pude perceber pela faixa etária dos presentes que eu era a mais nova (sem considerar seus filhos), e na maioria também eram cachorros, alguns davam para perceber qual problema tinham, e o que mais me chocou foi um com tumor enorme no corpo. 😦 Certo momento eu me incomodava com algumas crianças que vinham até mim “curiar” o que o Milagre tinha, e simplesmente tampava a cirurgia dele com um pano fazendo “cara de paisagem”.

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Milagre – Parte 10 “Hospital Público Veterinário Tatuapé”

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Assim que tive a minha primeira folga em dia de semana, o levei até o Hospital Público Veterinário do Tatuapé!

Como funciona o atendimento lá:

(Bom para você que planeja e precisa levar o seu animalzinho também)

Para ser atendido, você precisa ir de madrugada, ficar em uma “fila de senhas” e quando for 7h00 começarão a distribuir 80 senhas, para que você, possa levar o seu cão ou gato no dia seguinte. Mas também há os atendimentos emergenciais, onde eles atendem de imediato, mas para que possam dar continuidade no tratamento, precisará dessa senha de qualquer forma. Mais um detalhe importante: só atendem quem mora na cidade de São Paulo! E é imprescindível que você leve um comprovante de residência.

Quando resolvi levar o Milagre, tinha plena ciência da necessidade dessa senha, mas confiei que devido ao seu quadro médico o atenderiam no emergencial, pois no encaminhamento médico que eu possuía, dizia que ele tinha que fazer uma nova cirurgia o quanto antes.

Fui com minha mãe e meu tio de carro, e somente quando cheguei lá, que soube que só atendiam quem morava em São Paulo. Minha mãe descobriu antes de mim, enquanto conversava com uma outra mulher que também estava aguardando para ser atendida. E imediatamente já pensei em um plano B, teria que inventar alguma coisa, pois precisava que ele fosse atendido.

Quando a moça da recepção me chamou, menti que morava com meu namorado (o mesmo mora em São Paulo) e que apenas minha mãe morava em Guarulhos e veio me acompanhar (ela já tinha ouvido a história que alguém era de Guarulhos). A moça pareceu não engolir muito, mas deu continuidade para que fôssemos atendidos.

Quando chegou a nossa vez, fiquei muito desapontada quando a veterinária disse que eu precisaria da senha para que viessem a fazer outra cirurgia nele. Argumentei que o caso dele era urgente, mas ela disse que ali eles só o medicariam, que emergencial era considerado cachorros em quase óbito, e que ele estava “muito bem”.

A princípio ela também não me deu muito crédito quando viu que ele tinha sido atendido inicialmente em clínica particular e até disse ” porquê você não volta lá?” e só quando fui explicando para ela minha triste situação que ela foi me tratando mais humildemente, e ficou tão tocada com tudo que contei que até tirou foto dele, e me orientou a tentar ir no Hospital Público do Tucuruvi, pois lá por ser uma unidade mais nova, era mais vazio, e eu conseguiria a cota das senhas mais facilmente, enquanto no Tatuapé às quatro da manhã já tinham muitas pessoas na fila. 

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Agora eu tinha mais dois desafios:

– Conseguir a senha;

– Conseguir ser atendida mesmo morando em Guarulhos.

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Milagre – Parte 9 “Dia A Dia”

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Passou-se uma semana e eu estabeleci minhas rotinas diárias:

Antes de sair para trabalhar medicava o Milagre, deixava-o com água e ração abastecidos (sim, ele já estava comendo e bebendo sozinho para minha grande alegria!) e quando voltava o limpava e medicava novamente.

No começo eu molhava a ração, mas quando experimentei não molhar, ele comeu da mesma forma. Ele sempre ficava deitado, mas nunca quando eu chegava em casa estava do mesmo jeito que o deixara. Ele fazia grande esforço para se mexer com a única pata que o obedecia, e para minha grande surpresa, antes mesmo que eu comprasse o laxante que a veterinária receitou, ele conseguiu sim defecar sozinho! Nunca fiquei tão feliz na vida por um cocô de cachorro!! Rs.

E foi a partir daí que o seu nome mudou para Milagre, pois apesar dele não estar 100% ele estava vivo; se alimentava por espontânea vontade; e agora até defecava mesmo que a veterinária tenha dito que não conseguiria sem ajuda; e devo dizer que seu próprio nome quem o escolheu foi minha mãe, ou seja, mais um motivo para ser um “Milagre”.