“Bordel Brasil”
Quando eu estava em cartaz com o segundo espetáculo em que atuei, “Seja Benvinda”, determinada vez precisei ir ao teatro num dia em que ocorria o ensaio de uma outra peça. Acabei ficando para assistir. Havia quatro meninas no elenco e naquele momento ensaiavam a coreografia de uma dança super sexy com cadeiras, ao som de Beyoncé. Meus olhos brilharam! Pensei: “Uau! Que demais! Queria poder fazer parte desse espetáculo também!” Sempre gostei de dançar, mas nunca tinha feito nada profissional nesse sentido. Eu já estava em outro espetáculo e os ensaios deste ocorriam em um dia que eu já tinha outros compromissos, fora que eu ficaria bastante atrasada em relação ao restante do elenco. Guardei aquela vontade só para mim e deixei para lá.
De repente, chegou a pandemia. O mundo foi surpreendido por algo que só víamos nos filmes de terror e suspense. Foi muito difícil lidarmos com uma situação tão adversa, algo completamente novo para todos nós, sem nenhum manual de instrução. Estabelecimentos fecharam, empresas quebraram e o espetáculo em que eu estava atuando também foi cancelado. Muitas pessoas adoeceram e morreram. Tudo por conta de uma doença que é uma roleta russa, não sabemos como o vírus agirá no nosso organismo, até que isso aconteça. Parei de atuar, parei de estudar, fiquei enferrujada.
Após alguns meses, ainda no ano catastrófico de 2020, quando o governador de São Paulo flexibilizou a quarentena, o diretor do espetáculo anunciou que voltaria a montar uma peça, consultando o interesse e disponibilidade de seus atores. Não seria mais “Seja Benvinda” e, antes de saber qual peça seria, já aceitei logo de cara! Estava louca para voltar aos palcos de novo. Conforme o elenco foi se manifestando, ele decidiu que, mais uma vez, tentaria montar o espetáculo “Bordel Brasil” que era, por acaso, aquele que eu tinha assistido a um único ensaio, meses atrás, me encantado e desejado poder participar! Coincidência? Destino? Presente do universo? Não sei dizer muito bem, só sei que foi um grande respiro em meio a tantas notícias ruins que estávamos vivendo.
Em outubro de 2020 começaram os ensaios e o diretor nos deu total liberdade para criarmos nossos personagens. Alguns já estavam definidos e prontos no roteiro do espetáculo, mas para os novos que entraram, ele deixou que nós mesmos criássemos a sua trajetória. Eu sempre gostei mais da comédia, sinto que tenho mais facilidade com o humor, então, decidi aproveitar a mesma personagem que fiz em “Seja Benvinda”, Lili!

Lili em “Seja Benvinda” era uma puta de bordel, do sertão, com sotaque nordestino, que protagonizava cenas de comédia. Era a única amiga de Rosinha (Julianna Chiaves), a ingênua filha da beata, com quem acabava se enrabichando depois, por iniciativa da própria ruivinha. As duas são flagradas pela beata enquanto se beijam e Rosinha, após ser renegada pela mãe, se muda para o bordel com Lili.
Quando propus ao diretor aproveitar a Lili para “Bordel Brasil”, ele gostou! Mas eu precisaria criar uma gênese para ela. Escrever o seu monólogo de apresentação com a história da personagem. Não daria para usar a mesma trajetória que ela teve em “Seja Benvinda”, isso me limitaria demais, então, comecei do zero. Ela não seria mais macumbeira, muito menos tão bobinha, que vivia a sombra de Teresa (Jaine Mauriz) – outra personagem puta de Seja Benvinda -.
Em Bordel Brasil, eu queria que Lili fosse mais ousada, mais dona de si, mais engraçada e mais sensual. O que, na teoria, poderia até ser fácil, mas na prática não, não tanto quanto eu tinha imaginado. Ser sensual entre quatro paredes é uma coisa, agora ser sensual para uma plateia são outros quinhentos. Será que eu consegui? Vamos descobrir ao longo das postagens…