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Milagre – Parte 6 “Voltando Para Casa”

Como se tudo que eu estivesse passando não fosse difícil o suficiente, chegar com ele em casa sem avisar, também não foi a parte mais fácil. Já era noite e minha mãe que nem sabia da história, começou a berrar para que eu levasse o cachorro embora, e que só o tinha trazido para morrer ali. Era muito difícil não ter o apoio de ninguém, e o Rafael mesmo vendo todo aquele transtorno, dizia que para a casa dele não poderia levar. 😦

cachorro-doente-descansando

Ajeitei o Milagre em um quartinho na minha casa, e fui falar com minha mãe que estava irredutível, expliquei a ela que não tinha para onde o levar, que não poderia colocá-lo na rua, que estava “doente”, e que onde o coloquei ele não iria nem sair do lugar pois tinha acabado de passar por uma cirurgia. Ela não queria saber, disse que eu não a respeitava, que a casa era dela, e que eu tinha que pedir primeiro para trazê-lo. Era tanta tribulação, que eu só queria um buraco bem fundo para me enfiar e esquecer de tudo que estava acontecendo.

Eu estava com um cachorro que não podia andar, que de alguma forma eu teria que comprar seus remédios “para ontem”, meu “amigo” que tinha me colocado nessa, já que foi ele que havia me chamado até o local e presenciado o atropelamento, estava “tirando o corpo fora”, e minha mãe estava negando um teto para um animal tão indefeso. 

Quando fui acompanhar o Rafael até o portão quando estava indo embora, ele disse: “Tá vendo Carol? Não vai dar pra ficar com esse cachorro assim. Desculpa, eu sei que tinha dito que ficaria com ele, mas do jeito que ele está, como ficará lá em casa? Eu saio pra trabalhar de madrugada e só volto a noite, você sabe! E minha mãe é pior que a sua nessa parte. Então faz isso que eu falei: vai amanhã no Enilson e pede para ele vir dar uma injeção para sacrificar o cachorro. Ele não vai sofrer mais e pronto. Acabou.”

Ele falando parecia tudo muito simples, mas eu não conseguia aceitar esse caminho. Fui dormir aos prantos, pois não sabia mesmo o que fazer. Tive uma péssima noite de sono, pois além de ter um sonho estranho, acordei diversas vezes para ir vê-lo que gemia de dor.

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Milagre – Parte 5 “Pior Notícia”

 5° Dia

Pedi ao Rafael que me encontrasse na clínica, afinal estávamos juntos nessa. Quando a veterinária nos chamou na sala para mostrar o Raio X do Milagre, conforme ela ia explicando eu comecei a chorar ali mesmo… aquele cachorro estava condenado! Abaixo segue a foto do Histórico dele, de quando demos entrada na Clínica:

historico-veterinario-canino

Como não entendo termos técnicos, pincelarei o que dizia no exame de Raio X:

– Fratura múltipla do acetábulo direito;

– Fratura em asas do sacro, com deslocamento cranial das articulações;

– Fratura completa em tuberosidade isquiática direita e ramo cranial do púbis esquerdo;

-Fratura segmentar em ísquio esquerdo;

– Fratura completa em porção caudal do sacro, com desvio do eixo ósseo e comprometimento do canal medular;

– Luxação;

– Fratura em processo articular caudal de L7;

– Esclerose do acetábulo esquerdo;

– Alteração morfológica do colo femoral esquerdo;

– Presença de sonda uretral.

Resumindo o que entendi: ele estava com a lombar destruída, coxal todo arrebentado, e da forma como estava,  não conseguiria nem defecar sozinho! E em meio a tantas notícias ruins, disse que seria preciso fazer outra cirurgia o quanto antes, onde teríamos que desembolsar mais uns R$1.700 mais ou menos…! Meu Deus porque tudo tinha que ser tão difícil??! Porquê eles não tiveram a eficácia de ver isso antes?! Porquê falavam tudo por etapa?!

O Rafael se manteve contido durante toda a explicação do resultado do Raio X, e quando a veterinária nos deixou a sós para pensarmos o que faríamos, ele me disse que a partir daquele momento estava “tirando o seu time de campo”, pois já havia gastado tudo que podia com o cachorro e que achava melhor que o sacrificássemos.

Eu não sabia o que fazer da minha vida (ou melhor da vida do Milagre) pois ao mesmo tempo que não tinha mais condições de arcar com tudo aquilo, não queria que depois de tudo que fizemos, tivéssemos que sacrificar afinal! Eu estava em frangalhos. Não podia mais contar com o Rafael, e naquele dia eu teria que levar o Milagre de lá. A veterinária pediu que retornasse com ele no dia seguinte para que fizesse a avaliação da outra cirurgia, e não poderia deixá-lo direto senão cobrariam mais um dia de internação. Me passou uma vasta lista de remédios que eu teria que providenciar para o dia seguinte as oito da manhã, e devo dizer que nunca vi tanto remédio na minha vida!!

Era a primeira vez que o via depois do acidente e confesso que foi muito estranho vê-lo sem a pata! Eu sabia que seria removida, mas imaginei que ficaria algum “cotoco” já que ela tinha sido fraturada ao meio, e o que vi foi como se aquela pata nunca tivesse existido!! Tiraram-na por inteiro!! Foi muito estranho vê-lo daquela forma, não era uma visão muito bonita de se ver. A veterinária o entregou para mim e o peguei com o maior cuidado possível.

cachorro-com-pata-amputada-tres-patas

Como o Rafael “lavou as mãos” a partir daquele momento, acabei tendo que levar o Milagre para minha casa (sendo que no plano inicial ficaria com Rafael). O percurso de volta foi difícil, pois ele gemia alto de dor nas lombadas e quando desci do carro tinha urinado na minha blusa. Uma coisa eu nunca irei esquecer nesse dia: quando estávamos ainda no carro a caminho da minha casa, o Rafael disse com pesar: “ele já te olha como se fosse a dona dele”.

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Milagre – Parte 4 “Complicações”

Cheguei em casa e postei no Facebook sobre o cachorro, pois ele tinha coleira, e estava com “gravata de pet shop” que são aquelas gravatas que dão quando os cachorros tomam banho, até perguntei para alguns amigos do bairro, mas ninguém sabia quem seria seu dono.

2° Dia

No dia seguinte (domingo), liguei na clínica para saber se tinham novidades. E a veterinária já me veio com outra má notícia… Disse que ele estava apresentando “alterações neurológicas”, que não respondia a estímulo nenhum! Não comia, não se mexia e ficava com o olhar perdido. Me explicou que dependendo de como foi o atropelamento, poderia ter batido a cabeça, e que se fosse isso mesmo, não adiantaria fazer cirurgia, pois seria caso perdido, disse que seria preciso fazer um outro exame, e pediu minha autorização. Concedi. Desliguei o telefone pedindo a Deus que não deixasse ser isso.

3° Dia

Liguei novamente e a veterinária, disse que o cãozinho já estava bem melhor (no quesito neurológico) que já acompanhava com os olhos e tentava se levantar! Que provavelmente estava imóvel antes devido a dor. Não foi preciso fazer nenhum exame, e naquele dia a tarde, seria feito o procedimento cirúrgico. Fui até lá depois do serviço para vê-lo, mas não consegui, pois disseram que ele tinha acabado de entrar em cirurgia (houve atraso).

4° Dia

Liguei para saber como tinha sido e como ele estava, e adivinhem? Mais complicações! A veterinária explicou que tinha dado tudo certo, entretanto ele não estava conseguindo se levantar, e estavam desconfiados que as patas de trás, também tivessem sido afetadas pelo acidente. Disse que seria preciso fazer um raio X. Concedi que fizessem, e no dia seguinte quando fui buscá-lo só tive mais notícias amargas… 😦

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Milagre – Parte 3 “Na Clínica”

A veterinária fez um curativo tampando aquele osso agoniante, e o doparam, pois obviamente estava sentindo muita dor. Avaliaram o quadro dele e não. Não me falaram de eutanásia. Disseram que seria preciso amputar a pata dele, pois não tinha como recuperá-la. 😦 Como já vi cachorros com três patas antes andando pela rua, apesar do choque, pensei que talvez não fosse tão ruim, já que pelo menos ele sobreviveria.

Fizeram o orçamento e tudo ficou nada menos que R$2.500!!! Incluso exames da região afetada, pulmão, para saberem se não afetou as vias respiratórias, dias de internações (que depois da cirurgia era o segundo mais caro), e detalhe: esse valor era com desconto!

A essa altura o Rafael, meu amigo, já havia chegado, e ficou tão chocado quanto eu! Afinal, que parte do cachorro não ser nosso e termos o socorrido por solidariedade, eles não tinham entendido?! Precisavam cobrar tudo isso? Até nós pensamos em eutanásia naquele momento, pois só dele estar ali, e não largado na rua, como ocorreu no momento do acidente, já era uma medida de amenizar seu sofrimento.

Mas acabou que resolvemos tentar salvá-lo, afinal nós tínhamos ido até ali com outras intenções e ao que parecia, era só amputar a pata, e ficaria tudo certo! O Rafael, até disse que ficaria com o cãozinho para ele depois. Daí ele ligou para sua irmã e tentou pedir emprestado o cartão de crédito, para parcelarmos o tratamento. Mas ela não pôde ajudar.

Eu liguei para o meu namorado que estava em minha casa, e que nem fazia ideia de onde eu tinha ido parar, e fiz o mesmo pedido. Ele porém, nos ajudou! 🙂 Demos entrada naquela clínica a tarde, e só saímos a noite, tamanha burocracia. Ao sair, nos sentimos vitoriosos. Por saber que o “Milagre” (que até então era “anônimo”) seria tratado. Mas…. Quem disse que a vida é simples e fácil?

 

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Milagre – Parte 2 “Em Busca de Socorro”

Como nenhum pet shop aceitou nos ajudar, resolvemos ligar para a clínica veterinária que funciona 24 horas chamada “Arca de Noé”, para nos informarmos do custo para o atendimento emergencial. Eles informaram que seria R$100 e nesse momento meu amigo tomou a frente, disse que pagaria para que socorressem o cãozinho, (estávamos confiantes de que sendo atendido no emergencial tudo seria resolvido), o grande porém naquele momento, era como o levaríamos, já que não tínhamos carro. Sei o que você deve estar pensando: “Porque não pediram o táxi da própria clínica?” Acontece que o táxi da própria clínica, geraria um custo maior ao que estávamos podendo naquele momento.

Sendo assim, enquanto pensávamos em alguém que poderia nos levar, naquele instante, passou o carro da “Regatha Rações” – cujo dono nos conhece desde criança, acredito que todo mundo no bairro, conheça o Enilson! – Meu amigo, saiu correndo atrás do carro e eu fiquei com o cachorro. Minutos depois, eles voltaram juntos. Organizamos que, eu iria com o Enilson e o cachorro, enquanto meu amigo ia em sua casa buscar o dinheiro, e depois iria de ônibus para a clínica (levava uns 15 minutos by bus).

A cada lombada, o cãozinho, demonstrava sentir mais dores. Ele começava a querer me morder enquanto tentava se mexer. Eu ficava em pânico três vezes: por ele; pela possível mordida e pela camiseta que estava escorregando e deixando a mostra seu osso ensanguentado! Pedi ao Enilson desesperada, que arrumasse a camiseta, mas o cachorro se mexia demais e imagine quão foi minha agonia quando a camiseta que estava tampando, caiu nos meus pés?! 😥 Eu não conseguia abaixar para pegar e o Enilson como estava dirigindo, não conseguia também! Foi muito agoniante, e a clínica não chegava nunca!!!

Como aquele carro era próprio da casa de ração, o Enilson tinha uma focinheira no carro, e conseguiu me ajudar com um dos atritos. E ainda a caminho, ele me disse que aquele caso estava perdido, que provavelmente falariam da eutanásia. Assim que chegamos, eu já o segurava toda de mau jeito. Ele se mexia muito, e eu não conseguia arrumá-lo em meu colo. Entrei e já fui direto para a sala de emergência.